sexta-feira, 29 de maio de 2015

A falsa viúva


Não foi uma surpresa inesperada e arrogante. Ela era o desespero da carência, enfraquecida pelo desejo carnal. Uma dama vestida de preto que vivia de luto pela sua própria inocência. Tinha no cabelo uma rosa negra para simbolizar sua dúvida constante sobre a vida.

Havia um turbilhão de sentimentos pulando e circulando em sua mente. Ela era sincera consigo mesma, mas insistia em mentir para os outros. O mundo exterior não existia para ela, fria e calculista, com o veneno impecável da sedução. O mundo interno girava ao seu favor e favorecia seu ego.

A jornada pela mente em busca do pecado. A loucura do medo e a soberba. O tempo todo pensava em destruir aquele cantinho onde sua bondade se refugiava. Ria dos seus próprios pesadelos, dormia indignada. Menosprezava os sentimentos alheios, sugava a alma dos homens. Ela era um vampiro tenebroso.

Mas um dia o seu véu iria cair e seu rosto envelhecer. Ela não era imortal, embora tivesse o espírito jovial. Era apenas mais uma mulher comum que tinha um corpo à oferecer. No fundo, carregava também algumas cicatrizes no seu coração, que doíam na solidão. Ela era pobre de intuição, uma escrava do vício e da ignorância. Cega pelo próprio ego, vagava e não encontrava a paz.

Noctur Spectrus

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