sexta-feira, 5 de junho de 2015

Bestas da escuridão



A vela estava quase se apagando. A única luz que se fazia presente naquele casarão assombrado iria chegar ao fim. Não haveria mais esperança, sem luz não haveria vida. Estávamos todos reunidos sem pensar, sem falar. Sabíamos que morreríamos, o escuro é a porta de entrada para os seres que se escondem da luz. E eles estavam próximos. Estávamos na casa deles.

Pobres de nós que na nossa inocência se perdemos. Entramos num lugar amaldiçoado e acendemos uma vela. Sofreríamos, eles não teriam dó de nós. Éramos jovens curiosos demais diante de um massacre. Nosso sangue seria alimento de terríveis feras. Seus dentes rasgariam nossa carne e destruiriam nossos ossos. A dor não era o pior. A morte não era o pior. O que mais nos condenava era o medo que nos deixava aflitos e loucos.

O relógio no topo da parede batia cruelmente. Estava próximo da meia noite. A vela se apagaria enfim... seria uma coincidência? Talvez houvesse um horário em que as trevas dominassem e estávamos prestes a descobrir. Não faltava quase nada, ninguém ousava se mover. Nossos corações estavam agitados. Não havia saída.

Uma alma presa no espelho se movia pelas paredes em busca do seu destino. Nas escadas, passos melancólicos de vítimas passadas. Dava para sentir presenças malignas por toda a parte. Um grito, passos estendidos em direção à porta. Uma garota correu mas antes que pudesse fugir foi capturada. Sumiu na escuridão. Ela experimentou a tentativa frustrada que à levou para a destruição.


Eu seria o próximo à tentar, mas faria diferente. Peguei a vela e corri em direção à porta. Os seres das trevas não se aproximaram, os outros vieram atrás de mim, os dois últimos foram raptados. Abri a porta, todos saíram, arremessei a vela dentro do casarão. Iniciou-se um incêndio. Corremos, eu estava na frente. As bestas corriam atrás de nós. Eram mais rápidas, mas ágeis, mais velozes.

O casarão pegava fogo enquanto elas saíam e nos perseguiam. De um à um todos íamos sendo capturados por elas e massacrados. Logo descobri que havíamos tomado o caminho errado. Ao final me deparei com um precipício imenso. Uma queda significaria a morte. Na minha frente a lua brilhava fortemente, como uma bola gigante brilhante. Estavam próximos. Pulei... Fui caindo enquanto o vento frio me fazia sentir o vazio inexplicável da emoção. Fechei os olhos e... adormeci antes de chegar ao chão.

Noctur Spectrus

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